segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Muros de Pedra - um incremento na biodiversidade do jardim








Dependendo das condições ambientais, um muro poderá albergar uma ou várias espécies do género Sedum.
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Os muros de pedra sempre me fascinaram e, tal como o Vinho do Porto, quanto mais velhos melhor!

No Alto-Douro, onde resido, ilha de xisto como já lhe chamaram, os homónimos muros são parte integrante da paisagem, extensão da rocha que lhe serve de substrato.
Os velhos muros constituem verdadeiros microcosmos, pequenos mundos em miniatura. Paraíso para alguns seres vivos, constituem um verdadeiro inferno para os menos adaptados.
Substrato pobre, com longos períodos de carência hídrica, altas temperaturas no verão e exposição frequente ao vento…
…musgos, líquenes, hepáticas, selaginelas, líquenes, fetos, avencas, avenquinhas, saxífragas, umbigos-de-vénus, seduns, ranúnculos, heras e madressilvas - apenas um punhado de plantas consegue sobreviver nas condições que um muro oferece. Nos muros as plantas distribuem-se de acordo com as suas preferências em termos de humidade e exposição ao sol. Cada planta tem a sua estratégia para fazer face à falta de água - armazenamento da água da chuva e da humidade atmosférica nas plantas carnudas, reprodução num curto espaço de tempo, revestimento piloso que ensombra e reduz a evaporação…


Especialmente nos locais mais húmidos, a presença de musgo num velho muro de pedra é um dado adquirido.

As hepáticas também podem estar presentes.

Entre invertebrados, répteis e anfíbios, os velhos muros também podem albergar alguns espécimes da fauna local. Nos meus muros são frequentes as lagartixas e um ou outro sardão, verdadeiros sentinelas, guardiães no meu castelo. E eu a espreitar…
Os interstícios entre as pedras permitem a nidificação de uma ou outra ave. Um casal de chapins-azuis todos os anos me presenteia nidificando num dos muros do meu jardim.
Os muros também podem servir de refúgio a pequenos mamíferos – ratos, musaranhos, …. No muro de suporte ao meu pátio criei uma caixa-abrigo para um ouriço caixeiro.
Espreitando entre as pedras de um muro, o simpático roedor da imagem deixou-se fotografar a curta distância. Senti-me na altura como se tivesse fotografado um elefante, um rinoceronte ou mesmo uma girafa em plena savana africana!…

O meu jardim é parcialmente limitado por muros de pedra que reconstruí. Superiormente os muros possuem uma camada de terra, misturada com lascas de xisto – a litologia local. As lascas de xisto contribuem para que a terra, suporte da vida, não seja varrida pela chuva. Também as próprias plantas ajudam a fixar a terra.


Muro novo vira velho. A colonização das paredes verticais de um muro é iniciada pelos líquenes.

Muito confusos ficaram os meus vizinhos quando reconstruí os meus velhos muros de xisto. Vasculhei as redondezas na procura de plantas, especialmente do género Sedum, com que os colonizei. Estas aparentemente frágeis plantas servem de alimento a pequenos animais que ali residem ou passam. Disse-me uma velha e boa senhora a dado momento: ó caro senhor, julgo que está enganado! Olhe que essas plantas não são de pôr, são de tirar!!!...

Douradinhas e avencões, …
…polipódios, 
…fentilhos,
… avencas negras e
… avenquinhas. São muitas as pteridófitas presentes nos nossos muros.

Pois a quem pretende fomentar a biodiversidade no seu jardim, dou um conselho: evite os muros uniformemente rebocados. Num muro rebocado, castrado pelo cimento, não conseguirá mais do que um envergonhado líquen ou musgo, a pedir desesperadamente para ser pintado. Os muros de pedra são como um prolongamento das vertentes rochosas, escarpas e penhascos. Agora que a jardinagem vertical está na moda, lembre-se que os interstícios dos muros de pedra permitem que a flora e a fauna autóctones, rupícola, fissurícola e /ou cavernícola se instale. Com alguma terra à mistura, um simples amontoado de pedras poderá ter o mesmo efeito. E que belos são os rústicos muros da aldeia…

Conchelos rimam com muros velhos.

Algumas espécies de plantas: avenquinha (Anogramma leptophylla); avenca-negra (Asplenium adiantum-nigrum); avencão (Asplenium trichomanes); fentilho (Asplenium billotii); alfinete (Centranthus ruber); douradinha (Ceterach officinarum);  ruínas (Cymbalaria muralis);   polipódio-do-norte (Polypodium vulgare); azeda-romana (Rumex induratus);  ranúnculo-das-paredes (Ranunculus ollissiponensis); quaresma (Saxigraga spathularis); uva-de-gato (Sedum hirsutum); arroz-das-paredes (Sedum forsterianum); arroz dos telhados (Sedum album); Selaginela (Selaginella denticulata); umbigo-de-vénus ou conchelo (Umbilicus rupestris);…
Rafael Carvalho / set2013

8 comentários:

  1. Os seus muros estão lindos!
    Também adoro muros e delicio-me a admirar as plantinhas que neles crescem, humildes mas apesar de tudo quase sempre miraculosamente viçosas.
    Cumprimentos

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  2. Obrigado Fernanda.
    Entre as fotografias, as dos fetos foram tiradas em muros da região e não no meu jardim.
    Cumprimentos!

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  3. Excelente texto. Não voltarei a olhar para os muros da mesma forma. Cumprimentos.

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  4. Caro Lopes,
    muros velhos, património invisível, ...
    ... até ao momento em que olhamos para eles e realmente os observamos.
    Um abraço!

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  5. A espécie "Umbilicus rupestris" em Armamar é conhecida como Pimpilros :)

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  6. Busca da Arte,
    desconhecia este facto. Neste campo, como de resto em tudo na vida, estamos sempre a aprender.
    Cumprimentos.

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